Uma pequena fotografia a preto-e-branco encontrada, ao acaso, na rua, com a inscrição “o meu avô” rabiscada nas costas, serviu de ponto de partida para esta segunda exposição individual do Estúdio Pedrita na Galeria Underdogs, plena de acasos mnemónicos e instantes poéticos. Cruzando intencionalmente o mundo analógico com o mundo digital, o legado passado com a realidade presente, o conjunto de painéis aqui exposto recorre à sua técnica original de composição visual, assente no uso de azulejos industriais descontinuados com base no princípio do pixel ou do grão fotográfico.
“A small, black-and-white photograph found, by chance, in the street, with the inscription “my grandfather” scribbled on the back, served as a starting point for this second solo exhibition by Pedrita Studio at Underdogs Gallery, replete with mnemonic fortuities and poetic instants. Intentionally intersecting the analogue world and the digital world, the legacy of the past and the reality of the present, the series of panels showcased here resorts to their original composition technique based on the use of discontinued industrial tiles following the principle of the pixel or photographic grain.
Inspirado por um conjunto de imagens perdidas (e achadas) que captam episódios mundanos e expressões várias que nos são, certamente, familiares – da espontaneidade mais caricata à pose mais encenada –, este corpo de trabalho meticuloso sugere um exercício de contemplação sobre as ideias de perda e de recuperação – das nossas memórias individuais, dos nossos referentes colectivos, do nosso património cultural e identitário.
Se o gesto autoral que resgata do esquecimento as fotografias originais é acompanhado de uma acção transformadora, reconfigurando-as num novo formato estético, o acto de recuperação estende-se igualmente ao próprio suporte, também ele salvaguardado do oblívio e sublimado. O resultado deste intricado jogo de regeneração e reinterpretação é aqui materializado numa espécie de percurso narrativo aberto, onde cada um poderá criar, através das potenciais ligações que se podem estabelecer, ou encontrar, entre os vários elementos expostos, as suas próprias histórias – partindo do princípio que este avô e estas pessoas, poderiam muito bem ser os nossos próprios familiares e amigos.
Inspired by a set of lost (and found) images that capture mundane episodes and various expressions which are certainly familiar to us – from the drollest spontaneity to the most staged of poses –, this meticulous body of work suggests an exercise in contemplation on the ideas of loss and recovery – of our individual memories, of our collective referents, of our cultural and identitarian heritage.
If the authorial gesture that retrieves the original photographs from oblivion is accompanied by a transformative action, reconfiguring them into a new aesthetic format, the act of recovery is equally extended to the medium itself, it too salvaged from nihility and sublimated. The result of this intricate game of regeneration and reinterpretation is materialised here in a kind of open narrative itinerary where each viewer can create, through the potential connections that can be established, or found, between the various elements exhibited, their own stories – assuming that this grandfather and these people could very well be our own relatives and friends.
Estas imagens analógicas encontradas ao acaso por entre os vários locais do nosso quotidiano contêm detalhes e composições de que gostamos e sobre as quais, sem garantias de verdade, só podemos indagar e tentar adivinhar as suas circunstâncias.Neste limbo de incerteza que nos parece belo, considerámos um paralelismo com a história da matéria-prima que temos vindo a usar na nossa prática artística e cruzámos o analógico com o digital afinado manualmente de modo a criar uma série de novos painéis abstracto-figurativos.
Este encontro entre analógico e digital, entre imagens e azulejos que estavam perdidos e foram achados, pareceu-nos cruzar-se em muitos pontos com o corpo de trabalho que temos vindo a desenvolver: sujeito e matéria-prima que partilham premissas de origens à partida indefinidas; composições visuais interessantes para exploração cromática e plástica; as histórias em que se podem transformar; e os novos locais que poderão habitar até serem novamente perdidos.
These analogue images found by chance around the various places of our daily lives contain details and compositions we appreciate and of which, with no measure of certainty, we can only question and try to guess their circumstances. In this limbo of uncertainty which, to us, seems beautiful, we considered a correspondence with the history of the material we have been using in our artistic practice and we crossed the analogue with the digital refined by hand in order to create a series of new abstract-figurative panels.
This meeting between analogue and digital, between images and tiles that were lost and then found, seemed to intersect in many points with the body of work we have been developing: subject and matter that share premises of origins which, provisionally, are undefined; interesting visual compositions for chromatic and plastic exploration; the stories they can develop into; and the new places they can inhabit until being lost again.